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Transtornos Delirantes e Psicóticos

Sintomas como delírios e alucinações são comumente referidos como sintomas psicóticos. Isso porque essas duas alterações psicopatológicas comumente são vistas em síndromes psicóticas, como a esquizofrenia. Mas existem muitos outros diagnósticos diferenciais para o paciente delirante, que dependem da apresentação de outros sintomas e da forma como o delírio e/ou alucinação se manifesta.

Delírios são crenças sobre as quais o individuo tem convicção extrema. É impossível modificar o delírio a partir de argumentos lógicos ou provas, ou seja, o delírio é uma ideia irremovível e irrefutável, para o indivíduo é vivenciado como algo evidente. Geralmente o conteúdo delirante é impossível (embora haja exceções, como delírios de ciúmes) e é uma produção somente do indivíduo. Não são compartilhadas com o resto de sua comunidade.

Alucinações são consideradas alterações de percepção sensorial. Podem atingir qualquer sentido do paciente, mas, em psiquiatria são mais comuns alucinações auditivas. A alucinação verdadeira deve ser como uma imagem real, apresentando corporeidade, extrojeção e não pode ser modificada com a vontade ou por ações do indivíduo. Alucinações visuais são mais ligadas a acometimentos orgânicos como enxaquecas, alterações do sono, abstinência alcoólica, tumores ou infecções cerebrais e demências (como a de Corpúsculos de Lewy).

 

 

A esquizofrenia paranoide é o transtorno psicótico mais conhecido. Geralmente se inicia na adolescência ou idade de adulto jovem ou, menos comumente, ao redor dos 40 anos. O curso da doença é em crises, com períodos em que o paciente apresenta perda de funcionalidade. Geralmente se observam alucinações auditivas complexas, descritas como vozes. O paciente pode ter crítica ou não que as vozes são reais, mas invariavelmente sentem que elas são difíceis de se ignorar. Essas vozes podem apresentar conteúdos diversos, sendo que o mais relatado são vozes de comando (que dão ordens ao indivíduo) ou vozes que conversam entre si comentando sobre o indivíduo. Os delírios por sua vez são comumente persecutórios e complexos.

Outro transtorno comum é o Transtorno Delirante Persistente. Como o próprio nome sugere, o sintoma mais comum é o delírio, sendo que quadros alucinatórios são mais raros e menos proeminentes. Esse transtorno costuma ser crônico e não impacta na funcionalidade do indivíduo, com pouca alteração de comportamento que foge ao conteúdo delirante. Os conteúdos são variados e podem incluir delírios de ciúmes, de grandeza ou autorreferentes.

Dentro do contexto de demências, o primeiro sinal perceptível pela família pode ser um delírio ou alucinações. Se destacam quadros de delírio de roubo dentro de Demência de Alzheimer no qual o idoso, por lacunas em sua memória, pode acreditar ainda possuir um objeto e estranha quando não o encontra – criando uma narrativa de que está sendo roubado. Outra demência que frequentemente apresenta delírios e alucinações é a Demência de Corpúsculos de Lewy.

 

 

É importante a avaliação com cuidado para diagnostico diferencial das diferentes síndromes psicóticas. Essa avaliação inicia-se com uma boa avaliação psicopatológica e deve incluir exames laboratoriais e de neuroimagem para diagnóstico diferencial, no primeiro aparecimento dos sintomas. Isso porque existem outras causas orgânicas que podem gerar esses sintomas e outros transtornos psiquiátricos podem apresentar sintomas psicóticos como parte do seu quadro (por exemplo, é possível ter uma depressão com sintomas psicóticos causados unicamente pelo quadro depressivo).

O tratamento para síndromes psicóticas depende da etiologia – ou seja, do que está gerando esses sintomas. No caso da Esquizofrenia Paranóide ou do Transtorno Delirante Persistente o primeiro tratamento são as drogas conhecidas como antipsicóticas. Se for causado por uma depressão, pode ser usado a associação de antidepressivos com antipsicóticos. No caso de delírios resultantes de demências, geralmente o uso de remédios próprios para o déficit cognitivo (como os Inibidores da Acetilcolinesterase) tem um bom resultado.

 

Autora:

Dra. Ana Flávia Machado

Médica formada pela UFPR, Psiquiatra formada pela UNICAMP e Psicogeriatra formada pela UNIFESP.

O texto, Transtornos Delirantes e Psicóticos, é original escrito e editado pela Dra. Ana Flávia Machado.

Referencias:

  1. Dalgalarrondo, P Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. Porto Alegre, 2000. Editora Artes Médicas do Sul 2. Kaplan, H.I; Sadock, B.J. Compêndio de Psiquiatria- Ciências do Comportamento e Psiquiatria Clínica.
  2. FORLENZA, Orestes Vicente e MIGUEL, Euripedes Constantino. Clínica psiquiátrica de bolso. . Barueri, SP: Manole. .
  3. Apostolova L. G. (2016). Alzheimer Disease. Continuum (Minneapolis, Minn.)22(2 Dementia), pp 419–434. https://doi.org/10.1212/CON.0000000000000307

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