Para tentarmos responder se a doença de Parkinson causa psicose, é importante entender um pouco da doença. A doença de Parkinson idiopática vai muito além dos sintomas motores. Trata-se de uma doença neurodegenerativa que pode acometer diferentes áreas do cérebro – e por consequência, gerar diferentes sintomas os quais nem sempre parecem neurológicos.
À primeira vista a doença de Parkinson idiopática parece ser puramente mecânica: podemos identificar lentificação no andar, maior rigidez para realizar movimentos e muitas vezes, tremores. Quando olhamos mais afundo, porém, encontramos sintomas que se manifestam no corpo todo. Inclusive na nossa mente. De todos os sintomas psiquiátricos que acometem as pessoas com Parkinson são mais frequentes depressão e ansiedade.
Mas afinal, a doença de Parkinson causa psicose? É possível que cause sintomas psicóticos, sim. Existem dois tipos de quadros psicóticos que podem estar presentes.
O primeiro quadro é composto pelo sintoma psicótico de alucinações visuais. Na realidade, muitas vezes esse sintoma vem acompanhado de problemas cognitivos e é um sintoma da demência na doença de Parkinson. Semelhante a demência de corpúsculos de Lewy pode causas alucinações visuais complexas – muitas vezes indistinguíveis de imagens reais. São comuns alucinações com pessoas, conhecidas ou desconhecidas ou animais. Algumas vezes a pessoa sabe que não são pessoas reais, outras vezes acreditam que são. A partir disso, podem surgir interpretações delirantes.
Por exemplo, uma pessoa que tem alucinações com pessoas desconhecidas em casa pode acreditar que está sendo roubada – e a partir disso criar um delírio de que está em perigo. Pode também associar a crenças espirituais ou acreditar que é uma companhia que está lá por algum motivo.
O segundo quadro é composto por sintomas psicóticos semelhantes aos que vemos em psicoses primárias, como a esquizofrenia. Nesses casos, o paciente pode apresentar alucinações auditivas (como se ouvisse vozes) e delírios, geralmente persecutórios.
É importante entender essa diferença pois o tratamento de cada uma dessas condições é diferente. Quando a psicose está ligada a Demência na doença de Parkinson, podemos optar pelo uso de medicações próprias para demência, como a donepezila.
Quando a psicose é semelhante a esquizofrenia o tratamento é geralmente feito com uso de antipsicóticos. É importante ressaltar que não é qualquer antipsicótico que a pessoa com Parkinson pode usar, uma vez que muitos deles podem piorar a parte motora. Nos Estados Unidos existe uma medicação chamada pimavanserin que foi desenvolvida para ser uma opção ao uso de antipsicóticos para esse perfil de sintomas.
Sintomas psicóticos devem ser avaliados por um profissional especializado, como o psiquiatra especialista em idosos. Apenas o especialista pode fazer o diagnóstico diferencial e introduzir o tratamento mais eficaz.
