Arquivo de Estudo

Insônia e Sonolência Excessiva Diurna

Antes de entender o que são queixas de insônia e sonolência excessiva diurna, é importante entendermos o sono é fundamental para a vida e para o bem-estar. O sono fisiológico é dinâmico, circulando em diferentes estágios. Esses estágios do sono dividem-se em Sono REM e Sono Não-REM. O Sono Não-REM, por sua vez, é divido em três estágios: N1, N2 e N3. Todos os estágios do sono são importantes e a privação de algum deles, mesmo que seletivamente, tem o potencial de causar repercussões clínicas. O adoecimento envolvendo má qualidade do sono pode levar a sintomas físicos, cognitivos, psiquiátricos.

Entre as queixas de sono mais comuns, estão insônia e sonolência excessiva diurna. Essas queixas devem ser investigadas detalhadamente, portanto levando em consideração diversos possíveis diagnósticos, incluindo dados como rotina de sono, comorbidades, ambiente de sono e uso de substâncias como cafeína e tabaco, entre outros.

 

Insônia

A insônia é classicamente subdividida em três tipos: insônia Inicial, insônia intermediária e insônia terminal. A insônia inicial é definida pela dificuldade de iniciar o sono, ou seja, quando tempo entre deitar e dormir é superior a trinta minutos. O diagnóstico diferencial de insônia inicial inclui transtornos ansiosos, má higiene do sono, síndrome de pernas inquietas ou alterações do ciclo circadiano.

A insônia intermediária é caracterizada por um ou mais despertares ao longo da noite, com dificuldade de voltar a dormir. Geralmente consideramos um tempo mínimo de 30 minutos até adormecer novamente. Causas comuns são ambientes de sono inadequado e transtornos depressivos. Além de insônia intermediária, alguns pacientes queixam de múltiplos despertares, que são percebidos, mas que não demoram tanto para retornar ao sono. Isso pode acontecer por diversos motivos, como doenças como diabetes miletos e apneia obstrutiva do sono.

Insônia terminal é o fenômeno no qual o individuo acorda em determinado ponto da noite – antes da hora planejada ou fisiologicamente esperada – e é incapaz de voltar a dormir. Assim como a insônia intermediária está relacionada a transtornos depressivos.

O tratamento de insônia deve priorizar a correção de sua causa. Por exemplo, tratamento de transtornos psiquiátricos presentes, correção de higiene do sono ou tratamento de síndrome de pernas inquietas. Por tempo limitado podem ser usados indutores do sono, mas o uso crônico de medicações como drogas Z e benzodiazepínicos (como Rivotril) é contraindicado. É importante manter em mente que medicações indutoras de sono, apesar de úteis em um momento inicial, não são o tratamento definitivo para a insônia.

A queixa de insônia ainda deve ser diferenciada de diagnósticos como impercepção do sono (onde o indivíduo consegue dormir, porém não percebe que dormiu) e síndromes de atraso de fase de sono ou de fase adiantada. Nem tudo que é percebido como insônia, de fato é.

Sonolência excessiva diurna

A Sonolência Excessiva Diurna (SED) pode ser atribuída a uma multiplicidade de etiologias, portanto, a avaliação inclui uma anamnese detalhada, descrevendo higiene, rotina e características do sono, como presença de roncos ou apneias.

Além da sonolência, o individuo com SED pode demonstrar dificuldades de concentração, alterações de humor (como irritabilidade, ansiedade ou tristeza), queixas de memória e cansaço. Entre as causas mais comuns de Sonolência excessiva diurna encontram-se apneia obstrutiva do sono, privação comportamental de sono, uso de medicações e transtornos depressivos, portanto, o tratamento é focado no diagnóstico e terapêutica da causa base.

A apneia obstrutiva do sono é uma causa comum e subdiagnosticada de SED. De maneira resumida, durante o sono o paciente apresenta períodos de interrupção da respiração causada pelo colabamento das vias áreas superioras. Nesse momento, em muitos pacientes, o acompanhante pode relatar ouvir uma pausa na respiração seguida por um ronco mais alto (conhecido como ronco ressuscitador). O paciente também pode queixar de aumento do número de microdespertares e a fragmentação do sono. Essas pausas respiratórias causam sintomas em diferentes sistemas (como vias cardiovasculares, renais e neurológicas periféricas). Além disso, causam um estado inflamatório crônico. O resultado de uma apneia do sono não tratada é variado e rico em consequências: desde sintomas diurnos que causam prejuízo ao paciente até aumento do risco de eventos cardiovasculares, como infartos agudos do miocárdio ou acidentes cerebral encefálico.

Os sintomas do sono podem estar relacionados a diferentes causas. A avaliação de queixas de sono deve ser minuciosa e feita por um profissional qualificado. É importante lembrar que o tratamento deve objetivar a causa e não apenas o uso de medicação sedativa.

Autora: 

Dra. Ana Flávia Machado

Médica formada pela UFPR, Psiquiatra formada pela UNICAMP e Psicogeriatra formada pela UNIFESP.

Referencias:

  1. Kirsch DB. Obstructive Sleep Apnea. Continuum (Minneap Minn). 2020 Aug;26(4):908-928. doi: 10.1212/CON.0000000000000885. PMID: 32756228.
  2. Malhotra RK. Evaluating the Sleepy and Sleepless Patient. Continuum (Minneap Minn). 2020 Aug;26(4):871-889. doi: 10.1212/CON.0000000000000880. PMID: 32756226.

Doença de Parkinson causa psicose?

Para tentarmos responder se a doença de Parkinson causa psicose, é importante entender um pouco da doença. A doença de Parkinson idiopática vai muito além

Antidepressivo: Venlafaxina

O que é o antidepressivo venlafaxina? É um antidepressivo da classe inibidor seletivo de recaptação de serotonina e noradrenalina. A dosagem terapêutica vai de 75mg-300mg,

× AGENDAR CONSULTA