O transtorno de compulsão alimentar periódica (TCAP) é um transtorno no qual o individuo tem episódios recorrentes de binge (ingestão de grandes quantidades de comida). Atinge até 4% da população geral e está presente em 8% da população com obesidade.
O TCAP diferencia-se da bulimia pois não há comportamentos compensatórios com objetivo de “gastar” as calorias ingeridas.
A compulsão alimentar periódica se caracteriza por dois sintomas principais:
- Ingestão, por período limitado de tempo, (até duas horas, por exemplo), de uma quantidade de alimento definitivamente maior que a maioria das pessoas consumiria num período similar
- Sentimento de falta de controle alimentar durante um episódio durante o episódio (sentir o que não consegue parar de comer.
Esses episódios ocorrem pelo menos 1 vez na semana por três meses e podem ser acompanhados de:
- comer muito mais rapidamente que o normal.
- comer até se sentir completamente repleto.
- comer grandes quantidades de alimento quando não fisicamente faminto.
- evitar comer na frente de outros quando não fisicamente faminto ou sentir repulsa.
- depressão ou culpa por comer demasiadamente.
Se não houver associação com outros transtornos psiquiátricos o tratamento de indicação é psicoterapia, especificamente Terapia Cognitivo Comportamental focada me transtornos alimentares. Já casos moderados a graves podem se beneficiar de terapia farmacológica associada, como a medicação Venvanse.
Comorbidades como depressão ou transtornos ansiosos indicam tratamento com farmacologia associado a psicoterapia. Os mais usados são antidepressivos, estabilizadores do humor e topiramato. Medicações específicas para emagrecimento, como sibutramina, devem ser usadas com cautela e somente se todas as tentativas de tratamento padrão falharem.
“Nem todo mundo com sobrepeso e obesidade tem compulsão alimentar”
Mas se apenas 8% da população com obesidade tem TCAP, qual a maior causa de obesidade? A resposta é complexa. Inclui erros alimentares, aliado a sedentarismo e relação comportamental de dependência com a comida. A dependência com a comida não é uma dependência química, portanto não pode ser comparada com a dependência de drogas, como cocaína. Mas existe algumas teorias sobre porque algumas pessoas “comem por ansiedade”.
A explicação que mais faz sentido para mim é a do uso da comida – principalmente o prazer que comidas com mais açúcar e gordura fazem – como forma de equilibrar sentimentos ruins. Ou seja, em algum momento você aprendeu que quando coisas que trazem sentimentos ruins acontecem ou o quando se sente preso em períodos com poucos prazeres uma das saídas é “compensar” com o prazer obtido na alimentação. Com o passar do tempo esse comportamento aprendido vai ganhando força – e existe um grande desafio em reavaliar e mudar seu comportamento.
Mas como podemos então tratar? O primeiro passo é reavaliar o comportamento. A psicoterapia é fundamental para compreender o surgimento desse hábito e quais os fatores psicossociais que os mantiveram e os mantém. Estudos clínicos apontam que Terapia Cognitivo Comportamental tem eficácia, especialmente quando é especializada em transtornos de ansiedade.
Além disso, o exercício físico é fundamental. A atividade aeróbica e de resistência devem ser complementares. A atividade física tem um efeito triplo:
- Gasto energético durante atividade, somado ao aumento de musculatura (que consome mais energia)
- Liberação de endorfinas e outras moléculas que diminuem a ansiedade no momento e após a prática do exercício físico.
- Cria objetivos e desenvolve laços com outras pessoas com mesmos interesses, o que melhora o aspecto social.
Aliado ao exercício físico, podemos utilizar a medicação. Seu papel é tratar sintomas depressivos e ansiosos. Porém, para potencializar a intervenção também podemos utilizar medicações que objetivem inibição de apetite.
É importante lembrar que o tratamento do comer por ansiedade é para toda a vida, por isso, momentos de recaída e melhora podem acontecer ao decorrer dos anos. Então as intervenções principais, psicoterapia e atividade física, são a longo prazo.
Autora:
Dra. Ana Flávia Machado
Médica formada pela UFPR, Psiquiatra formada pela UNICAMP e Psicogeriatra formada pela UNIFESP.
O texto Compulsão Alimentar e Alimentação Emocional é original, escrito e editado pela Dra. Ana Flávia Machado.
Referências:
- FORLENZA, Orestes Vicente e MIGUEL, Euripedes Constantino. Clínica psiquiátrica de bolso. . Barueri, SP: Manole. . Acesso em: 10 jun. 2022. , 2018