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Compulsão Alimentar e Alimentação Emocional

O transtorno de compulsão alimentar periódica (TCAP) é um transtorno no qual o individuo tem episódios recorrentes de binge (ingestão de grandes quantidades de comida). Atinge até 4% da população geral e está presente em 8% da população com obesidade.

O TCAP diferencia-se da bulimia pois não há comportamentos compensatórios com objetivo de “gastar” as calorias ingeridas.

A compulsão alimentar periódica se caracteriza por dois sintomas principais:
  1. Ingestão, por período limitado de tempo, (até duas horas, por exemplo), de uma quantidade de alimento definitivamente maior que a maioria das pessoas consumiria num período similar
  2. Sentimento de falta de controle alimentar durante um episódio durante o episódio (sentir o que não consegue parar de comer.

Esses episódios ocorrem pelo menos 1 vez na semana por três meses e podem ser acompanhados de:

  1. comer muito mais rapidamente que o normal.
  2. comer até se sentir completamente repleto.
  3. comer grandes quantidades de alimento quando não fisicamente faminto.
  4. evitar comer na frente de outros quando não fisicamente faminto ou sentir repulsa.
  5. depressão ou culpa por comer demasiadamente.

Se não houver associação com outros transtornos psiquiátricos o tratamento de indicação é psicoterapia, especificamente Terapia Cognitivo Comportamental focada me transtornos alimentares. Já casos moderados a graves podem se beneficiar de terapia farmacológica associada, como a medicação Venvanse.

Comorbidades como depressão ou transtornos ansiosos indicam tratamento com farmacologia associado a psicoterapia. Os mais usados são antidepressivos, estabilizadores do humor e topiramato. Medicações  específicas para emagrecimento, como sibutramina, devem ser usadas com cautela e somente se todas as tentativas de tratamento padrão falharem.

“Nem todo mundo com sobrepeso e obesidade tem compulsão alimentar”

Mas se apenas 8% da população com obesidade tem TCAP, qual a maior causa de obesidade? A resposta é complexa. Inclui erros alimentares, aliado a sedentarismo e relação comportamental de dependência com a comida. A dependência com a comida não é uma dependência química, portanto não pode ser comparada com a dependência de drogas, como cocaína. Mas existe algumas teorias sobre porque algumas pessoas “comem por ansiedade”.

A explicação que mais faz sentido para mim é a do uso da comida – principalmente o prazer que comidas com mais açúcar e gordura fazem – como forma de equilibrar sentimentos ruins. Ou seja, em algum momento você aprendeu que quando coisas que trazem sentimentos ruins acontecem ou o quando se sente preso em períodos com poucos prazeres uma das saídas é “compensar” com o prazer obtido na alimentação. Com o passar do tempo esse comportamento aprendido vai ganhando força – e existe um grande desafio em reavaliar e mudar seu comportamento.

Mas como podemos então tratar? O primeiro passo é reavaliar o comportamento. A psicoterapia é fundamental para compreender o surgimento desse hábito e quais os fatores psicossociais que os mantiveram e os mantém. Estudos clínicos apontam que Terapia Cognitivo Comportamental tem eficácia, especialmente quando é especializada em transtornos de ansiedade.

Além disso, o exercício físico é fundamental. A atividade aeróbica e de resistência devem ser complementares. A atividade física tem um efeito triplo:

  1. Gasto energético durante atividade, somado ao aumento de musculatura (que consome mais energia)
  2. Liberação de endorfinas e outras moléculas que diminuem a ansiedade no momento e após a prática do exercício físico.
  3. Cria objetivos e desenvolve laços com outras pessoas com mesmos interesses, o que melhora o aspecto social.

Aliado ao exercício físico, podemos utilizar a medicação. Seu papel é tratar sintomas depressivos e ansiosos. Porém, para potencializar a intervenção também podemos utilizar medicações que objetivem inibição de apetite.

É importante lembrar que o tratamento do comer por ansiedade é para toda a vida, por isso, momentos de recaída e melhora podem acontecer ao decorrer dos anos. Então as intervenções principais, psicoterapia e atividade física,  são a longo prazo.

Autora: 

Dra. Ana Flávia Machado

Médica formada pela UFPR, Psiquiatra formada pela UNICAMP e Psicogeriatra formada pela UNIFESP.

O texto Compulsão Alimentar e Alimentação Emocional é original, escrito e editado pela Dra. Ana Flávia Machado.

Referências:

  1. FORLENZA, Orestes Vicente e MIGUEL, Euripedes Constantino. Clínica psiquiátrica de bolso. . Barueri, SP: Manole. . Acesso em: 10 jun. 2022. , 2018

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