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Transtorno Afetivo Bipolar

Ao contrário do que muitos pensam o Transtorno Afetivo Bipolar (TAB) não é “acordar feliz um dia e triste no outro” e nem reatividade de humor. É uma síndrome caracterizada pela oscilação entre fases de euforia (hipomania ou mania), depressão e eutimia (que é a fase em que o paciente está estável, fora de episódios de euforia ou depressão).

Para o diagnóstico, essas fases precisam ter uma limitação e uma duração de tempo estabelecida de dias a semanas até oscilar – com ajuda do tratamento ou não – para uma outra fase. Para o diagnóstico, o individuo deve apresentar ao menos um episódio de Mania ou Hipomania ao longo da vida

O Transtorno Afetivo Bipolar atinge até 4% da população mundial. Apesar de relativamente comum, estima-se que o tempo médio entre os primeiros sintomas e o diagnóstico seja de 8 anos.  Até metade dos casos tem início na adolescência. O início tardio, após os 60 anos de idade, pode estar relacionado a doenças vasculares cerebrais ou a doenças neurodegenerativas.

É importante, para o diagnostico, avaliar possíveis doenças orgânicas, como hipertireoidismo ou lúpus, que possam mimetizar os sintomas. Exames laboratoriais e neuroimagem se fazem necessários. Também é necessário avaliar uso de substâncias psicoativas, como por exemplo cocaína, que podem induzir um episódio maníaco mesmo em pessoas que não possuem TAB.

 

Sintomas característicos da fase de euforia:

  • Sensação de extremo bem-estar;
  • Aceleração do pensamento e da fala;
  • Agitação e hiperatividade;
  • Diminuição da necessidade de sono.
  • Aumento da energia;
  • Diminuição da concentração;
  • Euforia ou irritabilidade intensa;
  • Desinibição;
  • Impulsividade;
  • Ideias de grandiosidade e sensação de “poder”;
  • Pode estar associado a delírios ou alucinações.

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Sintomas característicos da fase de depressão:

  • Alterações de apetite com perda ou ganho de peso;
  • Humor deprimido na maior parte dos dias;
  • Fadiga ou perda de energia;
  • Apatia, perda de interesse ou prazer;
  • Pensamentos recorrentes de morte ou suicídio;
  • Agitação ou retardo psicomotor;
  • Sentimento de culpa ou inutilidade;
  • Desânimo e cansaço mental;
  • Tendência ao isolamento tanto social como familiar;
  • Ansiedade e irritabilidade;
  • Pode estar associado a delírios e alucinações.

 

Ainda há a possibilidade da ocorrência de episódios mistos, onde há sintomas de fases depressivas e maníacas ao mesmo tempo, que tornam o diagnóstico mais desafiador.

 

 

O tratamento do Transtorno Afetivo Bipolar é complexo e depende da fase da doença. Um mesmo paciente pode necessitar de medicações diferentes em diferentes momentos da sua vida.  Não se recomenda períodos sem medicação – mesmo que o paciente se apresente sem sintomas – devido ao alto risco de novos episódios.

O tratamento não farmacológico inclui psicoterapia, exercício físico, abstinência de substâncias psicoativas e sono regular. Diversos fatores podem desencadear um episódio de humor, como por exemplo privação de sono ou períodos de estresse intenso. O cuidado com os fatores ambientais é fundamental.

Diferente das depressões unipolares, os antidepressivos não são primeira escolha em tratamento de depressão no TAB – inclusive tem um potencial de induzir episódios de mania se em monoterapia. A primeira linha de tratamento para a fase depressiva inclui medicações como lítio, lamotrigina ou quetiapina em monoterapia, podendo ser necessária a associação com outras medicações ou uso de medicações de segunda linha.

A fase de euforia, ou seja, Mania ou Hipomania, é geralmente abordada com uso de antipsicóticos ou estabilizadores do humor. Se destacam uso de quetiapina, ácido valproico, aripiprazol, risperidona e lítio. Nas fases de eutimia, ou seja, quando o paciente está estável, é recomendado uso de estabilizadores de humor para manter a eutimia.

 

 

O papel do psiquiatra é navegar, junto ao paciente, o surgimento de novos episódios e manejar o tratamento farmacológico e não farmacológico ao longo dos anos. Como a doença é crônica, o tratamento também é. Por isso é necessário também acompanhar e tratar possíveis comorbidades e monitorizar possíveis efeitos colaterais de longo prazo dessas medicações.

O psicogeriatra é o profissional indicado para cuidado do Transtorno Afetivo Bipolar no idoso. Isso porque, deve-se prestar atenção, se primeiro episódio, na possibilidade de um quadro neurodegenerativo ou de acometimento vascular cerebral. O indivíduo com TAB desde a idade jovem que envelhece também requer cuidados especiais. Não só porque é necessário maior cuidado clínico em relação as medicações, efeitos colaterais e comorbidades. Mas também, o mau controle da doença pode gerar consequências na cognição e na funcionalidade com o passar das décadas.

 

Autora:

Dra. Ana Flávia Machado

Médica formada pela UFPR, Psiquiatra formada pela UNICAMP e Psicogeriatra formada pela UNIFESP.

O texto Transtorno Afetivo Bipolar é original, escrito e editado pela Dra. Ana Flávia Machado

Referencias:

  • Bosaipo NB, Borges VF, Juruena MF.Transtorno Bipolar: uma revisão dos aspectos conceituais e clínicos. Medicina (Ribeirão Preto, Online.) 2017;50(Supl.1),jan-fev.:72-84 http://dx.doi.org/10.11606/issn.2176-7262.v50isupl1.p72-84
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